
A água salgada lambia os meus pés e eu me apossava de cada um dos grãos de areia que ela trazia, como se fossem minhas molecagens e inquietudes resumidas em pequenezas, numa tarde que anoitecia mais cedo do que desejava, revelando, imaturamente, o beijo da lua no mar.
E, enquanto me concentro na onda, lembro de cada sentimento que gostaria que fosse real agora, mas a onda vinha, e arrastava consigo todos aqueles grãos, juntamente com as palavras que gostaria de dizer naquele instante de pensamentos sorrateiros.

Eu, meus sentimentos e as ondas, enquanto fitava o olhar em mais uma casualidade, vindo, de mansinho, apagar aquilo que não tive a chance de viver...

E, naquele ir e vir, naquela branca espuma que se refazia a cada nova crista, eu, por letárgicos instantes, me encontrei sorridente e cabisbaixa, triste e feliz, esperançosa e pessimista, menina e mulher... Enfim, dúbia de si.

E nada fiz por isso.
Apenas deixei-o, repleto de imprecisões, enquanto, em silêncio, esperava pelo transbordamento daqueles grãos, como se os desse a responsabilidade das minhas questões agora tão intensas quanto o quebrar incessante e violento das conchas nas pedras encharcadas de mar.
Imenso. Simples. Único. Como os meus desejos e sonhos...

é isso.