2006/12/29

Novo Ano

Porto de Galinhas - Recife - PE

A onda encontra obstáculos, mas, mesmo assim, não se deixa vencer por eles. Ao contrário, transpõe com toda a sua força, pois sabe que, lá na frente, encontrará coisas outras, como a chance de poder achegar-se à beira da praia e lamber os pés dos românticos, ou de trazer consigo conchas e bichos do mar que precisam dela, ou de, simplesmente, viver algo diferente.

...

Afinal, o que seria da onda, caso se conformasse com apenas o profundo... temendo o difícil... não sabendo o que a aguarda... descartando a margem?!

Acho que se reduziria a um amontoado de gotas de solidão.

E que venha 2007.

2006/12/04

Quereres

Maurício Dobke - Esperando o ônibus
Quisera eu estar agora pertencendo a uma de mim que consegue ultrapassar barreiras sem pensar no impossível, no quão altas são, ou como posso transpô-las sem gerar mais cicatrizes e lágrimas de cansaço.
Quisera eu ter entre as mãos as conquistas, juntamente com um pouco de desesperança debaixo das unhas, para lembrar e me convencer de que não são só de certezas, mas sim de possibilidades que se vive a vida na medida certa de seus propósitos.

E o meu desejo é o de encontrar esse lugar em que olhar para trás seja um ato para relembrar os motivos do meu sorriso e até onde pude chegar, e não o de ver os mesmos casulos de insistências e questionamentos. E o olhar para frente seja a certeza de um lugar para além de mim que transborde de simplicidades e ternura. Onde o amor dura para sempre.
Ouvindo Hillsong United - Where The Love Lasts Forever

2006/11/07

Gota de Outono (ou primavera, ou verão, ou inverno)


Hugo Manita - Gota de Outono

A lágrima é um pedaço de nós que não suporta o tamanho dos sentimentos e acaba se esvaindo. Como se um pedaço e ti se perdesse dentro do peito e a única saída que encontrou foi os teus olhos, indo-se. Mas, mesmo depois de seca, mesmo que suma, deixa no tempo a essência do que foi feita, de como brotou de teu íntimo. Se quiseres, então, te lembrares o por que daquela lágrima, com certeza recordarás o lugar, quem sabe a hora e, da memória, a razão para que despencasse de teus olhos.
E sorris, ou tornas a regar aquele momento com uma nova gota incontida.
.

A lágrima é uma parte do nosso mundo, não importando se grande ou pequena, mas de um tamanho que só tu cabes, e que só cabe a ti.

E a mais ninguém.

2006/10/13

A culpa nunca foi do destino...

Julia Dunin-Brzezinska - Under Red Tree
Destino é o nome que damos aos nossos tropeços. Quando eu digo ``errei, mas foi o destino``, me engano, porque fui eu que não soube agir de forma correta, e fico querendo me isentar de uma culpa que não pode ser de outro alguém, senão minha. Então, ao invés de ter sempre o destino como causa dos nossos erros ou acertos, ou o acaso como mero objeto para desviar a atenção de nossas limitações, deveríamos sentar e pensar no que podemos fazer para não tropeçar de novo, para nos tornar uma pessoa melhor consigo e com os outros.
O destino é um mero acaso.
E nada é por acaso.

2006/09/16

Nando Reis


Rita Monteiro - Partilha


A gente não percebe o amor
que se perde aos poucos sem virar carinho
guardar lá dentro o amor não impede
que ele empedre mesmo crendo-se infinito
Tornar o amor real é expulsá-lo de você
para que ele possa ser de alguém...

Nando Reis – Quem vai dizer tchau

:)

2006/09/11

Festa!


J.R.Garcia

Hoje é o meu aniversário.

Estou feliz. Bem mais feliz do que no aniversário do ano passado.
Sei lá. Hoje eu não apenas acho e desejo ser uma pessoa melhor, como vivo isso.

E, que nesses próximos 365, que eu me torne melhor ainda, amadurecendo e mirando os meus sonhos não tão distantes quanto um dia eu pensei que eles fossem. Eles estão perto, muito perto de mim...

O meu desejo, então, é que eu viva a materialização de tudo isso. E que, a cada dia, eu me reinvente, para descobrir, sempre sobre uma nova perspectiva, o que significa viver.

:)

2006/08/27

Sono

Desconheço Autoria

Ele se revira todo, e nenhum som é capaz de despertá-lo desse sono profundo, como se estivesse muito cansado do dia, das horas que se demoraram, da vida... Então, ele simplesmente chega, olha-me de soslaio e deita-se para, daqui a pouco, (acho que) começar a ser permeado por sonhos muito loucos, de forma que se debate e fala sozinho. Não sei se é comigo que sonha, ou se com os seus fracassos e solidão.

Mas ele não está sozinho, ele tem a mim, que ouço e fito-o demoradamente, tentando descobrir de que é feito, e o quanto sou feita disso, sendo sua matéria boa parte do meu querer-ser. Então, permaneço quieta, já que não há lembranças, ou sonhos, ou qualquer coisa que o faça sair desse lugar que parece ser agora um bom espaço para o seu descanso diário.

Eu queria que fosse o provável, mas é o impossível que dorme na minha cama, debaixo de lençóis brancos. E, por acaso, deveria eu ter coragem para acordá-lo? E, por acaso, tu terias?

2006/08/13

Deixar para Desabrochar

Desconheço Autoria

Deixo para trás o que não deu certo, os fracassos, as lágrimas, os erros. Que eu deixe mesmo o deserdado e o pequeno. Porque a cada manhã que se levanta, o sol me sorri de forma diferente, ainda que por detrás das nuvens, impossibilitando a visão, mas sinto-o. E as horas passam, cansadas e lentas, mas me permito semear aqueles primeiros sentimentos antes latentes no profundo da alma ansiosa por desabrochar. E eu descubro as minhas inseguranças, encaro, e aprendo a lidar com elas, pois sei que, em breve, todos esses passos errantes serão inundados por esse renovo de doçura que se esconde e se revela através das delicadas pálpebras do desejo.

2006/07/25

Cais


Gonçalo Pereira - Cais da Tranqüilidade

Sentar-se e observar o que me cerca. Desde o horizonte incerto ao céu que se revela sobre minha cabeça. Sorrir para todas essas simplicidades singulares. E, desse olhar, resgatar todos os meus...... –res. Restituir. Rever. Reinterpretar. Recriar. Renascer. Até que, de tanto olhar e sentir, não seja mais a mesma que primeiramente achegou-se a esse cais de possibilidades. Talvez eu seja agora a brisa que sopra e faz frio. Ou então a água que, pairada sobre as margens, des-adormece do peito os prefácios da ternura, dos sonhos e do amor.

2006/07/18

Abismo de -ins

Válter Ferreira - aGota
A memória fica entoando ausências, arrependimentos e aquilo que me impossibilitou um vôo mais alto. Mas eu sorrio para ela, porque pude vencer mais uma das barreiras que se colocavam diante de mim. Venci, porque me sinto lua crescente, nova, ou qualquer coisa maior que minguante e menor do que cheia. E isso me faz bem, mesmo sabendo que poderia ter feito melhor.

Mas agora ela me coloca à beira de um abismo que transborda de dúvidas e impossibilidades. Justamente eu, que sempre a questiono, me vejo diante de suas interrogações, inconstâncias, -ins, na iminência de despencar...

A saudade, a falta e tudo aquilo que não pude viver, por orgulho ou fraqueza, ficam sendo o que compõe esse precipício. E ele tenta, com seus nãos e por quês me convencer do contrário, de que maiores são os desejos insatisfeitos do que o esboço de um sorriso. Não sei o que deseja. Mas, de qualquer forma, deixo-o, gritando suas inseguranças e contradições enquanto salto no escuro.

Quem sabe assim não Nos. Me. encontre.

2006/06/18

O Depois


José Moreira - Brussels Garden

Depois do tempo de tempestades, de sofreguidão e abandono, vem sempre um intermédio, onde a gente descobre vida no que antes achava estar morto. Conseguimos, finalmente, ver a flor, ainda que encharcada pela chuva, desabrochando. Ou o pássaro, ainda molhado e com frio, piar. E vai reconstruindo um mundo de cores que há tempos não víamos...

Um tempo de novidades, em que a vida vai ensinando novamente os significados dos sentimentos esquecidos, juntando os cacos e re-descobrindo passos.

No período de chuva e medo. E antes do sol e do sorriso. Nesse espaço, em que o sonho e a memória acham uma brecha pala falarem mais alto, ainda que sejamos incapazes de traduzi-los para a realidade... É aí que está, mesclada de solidão e saudade, com plenitude e amor: A poesia. A felicidade. O sorriso.

Nós e nós mesmos.

2006/06/06

reS oãN = Não Ser


Jorge Garcia - Tu e tu

Não sei mais se sou o mar,
pelos sonhos ilimitados.

Ou se sou o grão de areia,
pela pequenez em bastar-se.

Ou se sou a concha,
pelo desejo de se perder no tempo de um amor.

Ou se sou a sombra,
pelo silêncio.

2006/05/27

Ocasiões


Amanda Keeys - At the gate

E quem disse que não há cor naqueles sonhos que você nunca quis sonhar? Elas sempre vão e voltam. E, às vezes, até te tocam, mas você não sabe. Deseja mesmo é acordar e ficar observando as incertezas passando pela janela. Ou a vida das cores. Ou as cores da vida.

VcIoDrA

E assiste aquele sonho se perder. Mas se tudo pode ser uma escolha, então eu fico com aquelas asas que passam pela janela, e nunca se cansam de vagar, hipnotizadas com a multiplicidade de possibilidades. Encantadas. Extasiadas. Perdidas. Borboleteando por aí...

2006/05/08

Eu: fresta


J.l. - Dentro ou fora

A madrugada, e eu sou a fresta da janela que deixa passar o vento gélido de uma noite de faltas, saudades, arrependimentos, desejos... Sou a fresta, e permito que esse sopro faça esparramar as folhas rabiscadas, abrir os livros não lidos, os velhos, os novos. E os meus olhos agora desejam alguma claridade, uma nesga de luz não forte, não fraca, suficiente apenas, para poder alcançar o limite entre a realidade e os meus sonhos. Mas eu sou a fresta, sou essa abertura única e incômoda das horas que se demoram. E os meus olhos são só o desejo de que o astro diga adeus às estrelas, aos românticos, aos loucos, e deixe que o azul de mais uma luz bonita se adentre ao meu espaço que não cabe mais em si de mudanças. São poucos os minutos da manhã e eu me debruço sobre esse dia que não nasceu como queria. Mas ele amanheceu, eu esqueci ?

2006/04/25

Dores de amores indolores


Maria São Miguel - Na sombra de um beijo

- É verdade que os amores eternos nunca morrem?
- É. Ou não seriam eternos.
- Mesmo que a pessoa esteja longe de você?
- Mesmo que a pessoa esteja longe de você. Mas ela estará mais perto do que você pensa.
- E como sabemos que aquele amor é eterno?
- Não sabemos. Até um dia.
- O dia em que ele vai embora?
- É. O dia em que ele vai embora mas nunca parte.

Por Fábio Fabrício Fabretti

Porque às vezes gosto de pensar na eternidade daquilo que sei ser efêmero, mas me preenche.

2006/04/12

Últimas, penúltimas, antepenúltimas...


Antônio Manuel Pinto da Silva - Só

Ultimamente eu prefiro pensar que não há lacunas, tampouco preenchimentos, nem sincronia, nem diacronia, enfim, não há nada morando em mim.
.

E você, no que tem pensado?

2006/04/02

En-tar-de-cer


Paulo César - Tudo imenso... sem nós

Tarde que se despede, e na boca um gosto de mudanças, de esperas. Ela se esvai, enquanto procuro qualquer lugar para refletir, até que encontre algum sentido para essas questões que agora brotam infindas da areia, do coração, dos espaços resguardados de nuncas e senões.

Lugar de se ficar sozinha, não para consentir com a solidão, mas para descobrir quais são mesmo as cores dos olhos da felicidade, do tempo de bonança, do sorriso para as simplicidades esquecidas...

A noite começa e temo-a com e seus mistérios, dúvidas e ansiedades. Ela parece desejar que não pertença a essa imensidão de descobertas que podem, por vezes, ferir. Mas, mesmo inabitável, escura, e distante da ordinariedade dos meus dias mais disformes, forço-me a anseios e quereres de permanecer.

2006/03/24

Surpreender-se por não saber (se)


X. Maya - No outono

Hoje eu sinto como se a minha vida fosse a de uma menininha de 5 anos parada no tempo, incerta sobre muitas coisas. Menina essa que, ao esperar ansiosamente pelo outono, certa de uma brisa leve, é surpreendida pelo inverno, com sua chuva, frio e desesperanças, enquanto brincava na porta de casa.

E eu às vezes penso que, em breve, tudo vai mudar. Mas o inverno é uma longa estação. Então eu corro, mas a correnteza é forte, então eu ando, mas o vento me impede a visão, então eu paro e espero.

Não há chaves, não há alguém. Há apenas o inverno e eu, na porta de casa.


ps: "Not happy, not sad, just breathing slowly..." (by Diana)

2006/03/19

D´alma


João Godinho - Pétala Rebelde

Quando os sentimentos começam a ser deserdados, eu fico olhando para dentro de mim, vendo o que restou, como se fossem as migalhas de uma fome insaciada e aflitiva. E há dias em que tento reconfigura-los, no desejo de que voltem a viver comigo, a me pertencer. Mas esses são dias de extrema confusão, junto com lágrimas, e sorrisos, e lembranças...

Mas, mesmo eu sabendo estar de pé, o coração permanece ajoelhado diante das dúvidas da alma há horas inquieta. E a vida acaba estagnada a esses momentos de imobilidades.

E sim, existem outros dias, em que os sentimentos agem de outras formas, mas agora estou falando daqueles em que eles ficam nessa dualidade, tentando se conformar com esses sentimentos poucos, e agindo dessa forma desestruturada e sem sentido, enquanto eu tento me convencer do meu avesso.

2006/03/09

O Abstrato Concretizado (se possível for)


Sérgio Redondo - Down Under
Interior do Edifício Casa da Música, em Portugal.

Do Lat. abstractu

adj.,
que designa uma qualidade separada do objeto a que pertence;
distraído;
contemplativo;
absorto;
alheado;
preocupado;

pop.,
de compreensão difícil;
obscuro, vago, abstruso (texto);

s. m.,
o que se considera existente só no domínio das idéias e sem base material;

Arte,
diz-se da manifestação artística de conteúdo e forma alheios a qualquer representação figurativa, que é característica de diferentes épocas, culturas, ou correntes estéticas, e transcende as aparências exteriores da realidade.



O abstrato me fascina. Porque ele pode dizer muitas coisas, dependendo de como é visto.
Os meus sentimentos hoje estão dessa forma, sem forma. Mas existem, assim como na foto.
Abstratos, até que algo os traga à realidade dos meus desejos até então pairados numa atmosfera in-constante de in-certezas. Onde são muitas as palavras e sonhos, mas pouquíssimos com norte, não cabendo, portanto, naqueles outros vãos que transbordam de continuidades.

2006/02/27

Adriana Calcanhoto

Paulo Medeiros - S/T

...tenho por princípios
Nunca fechas as portas
Mas como mantê-las abertas
O tempo todo
Se em certos dias o vento
Quer derrubar tudo?...

Sudoeste, Adriana Calcanhoto/ Jorge Salomão

...

2006/02/16

Sobre lidar com lembranças

"Os seus passos confundem-se com a escada, início e meio, atropelo, marasmo, cansaço, sinta que tudo completa uma fase indispensável, uma direção ainda não definida, há degrau para tanto, para reconhecimentos. Ruínas de outros tempos apenas no resgate de lembranças merecidas."

Leila Lopes

Concordo mesmo com tudo isso. Se as lembranças deveriam ser o que de melhor habita em nós, no sentido de fazer com que um sorriso brote da face, por ter vivido algo da melhor maneira, de que vale desenterrar aquelas memórias de dor, lágrimas e faltas do que não se teve?

Tudo bem que nem sempre o vivemos intensamente, mas valeu a tentativa, o esforço... agora, ficar remexendo uma ferida de perda ainda mal cicatrizada, vale mesmo a pena? Sei que nos completa, ainda que momentaneamente, aquela autoflagelação consentida, mas, e o depois? E o incômodo até que volte a se recuperar?

Não sei, já cultivei muitas coisas doloridas, e já as reguei com muitas lágrimas. Mas hoje, prefiro acreditar e viver esperando que desabrochem apenas aquelas que me acrescentem esperança, que me encham os olhos, e o coração.

E as outras, que só machucam, não me fazem bem e me impedem de viver o melhor da vida, prefiro deixar que sejam levadas. Pelo vento... pelo tempo... por qualquer coisa.

Imagens de Paulo Medeiros.

O texto todo da Leila, aqui.

2006/02/07

Da série: E você, o que acha ?


Desconheço autoria

"Giles e Isa Olivier, Clarissa e Richard Dalloway, Mr e Mrs. Ramsay, nenhum dos três casais alcança a união total. Exceptuado o amor físico que não passa da satisfação do instinto de procriação, não pode haver amor feliz.

Desemparelhados, solitários, o homem e a mulher perseguem isoladamente o seu sonho sem se reunirem de outro modo que não apenas entre os actos, e defrontando-se para sempre um ao outro.

Longe de quebrar a solidão fundamental do ser, o casamento torna a do outro maior. É uma falsa saída, uma porta enganadora para a liberdade, e o mistério continua total: «Ali está um quarto, acolá outro», ali a mulher com as suas necessidades, os seus desejos, e acolá o homem, não inimigos, mas estranhos semelhantes a dois círculos que nunca podem coincidir por completo.

Seja o que for o amor, nunca se chegará a formar um único ser indivisível e imenso, nunca há senão dois indivíduos, pequenos e separados."

Virginia Woolf (Relógio d'Água), Monique Nathan (pág. 54)

Peguei daqui.

Sua vez agora. :)

2006/01/27

Esperar para ir

Ao invés de ficar dando brechas a tantos por quês, preferi, por esses dias, apenas escancarar as janelas e admirar o tempo passar.

Eu preferi ficar observando um pouco as flores, os pássaros, as pessoas...

E fitei os olhos no horizonte, me certificando de que é para lá, ou melhor, para além dele, que quero voar quando minhas asas crescerem um pouco mais. E essas flores desabrocharem...

Elas disseram que querem me assitir.

Então eu espero. Por nós.

............................................................Pilar Mendes Dias

2006/01/18

Relatos de Mar


A água salgada lambia os meus pés e eu me apossava de cada um dos grãos de areia que ela trazia, como se fossem minhas molecagens e inquietudes resumidas em pequenezas, numa tarde que anoitecia mais cedo do que desejava, revelando, imaturamente, o beijo da lua no mar.

E, enquanto me concentro na onda, lembro de cada sentimento que gostaria que fosse real agora, mas a onda vinha, e arrastava consigo todos aqueles grãos, juntamente com as palavras que gostaria de dizer naquele instante de pensamentos sorrateiros.


Eu, meus sentimentos e as ondas, enquanto fitava o olhar em mais uma casualidade, vindo, de mansinho, apagar aquilo que não tive a chance de viver...


E, naquele ir e vir, naquela branca espuma que se refazia a cada nova crista, eu, por letárgicos instantes, me encontrei sorridente e cabisbaixa, triste e feliz, esperançosa e pessimista, menina e mulher... Enfim, dúbia de si.


E nada fiz por isso.

Apenas deixei-o, repleto de imprecisões, enquanto, em silêncio, esperava pelo transbordamento daqueles grãos, como se os desse a responsabilidade das minhas questões agora tão intensas quanto o quebrar incessante e violento das conchas nas pedras encharcadas de mar.

Imenso. Simples. Único. Como os meus desejos e sonhos...


é isso.