2010/10/06

A pena - que é o desejo -

Sara - Feather me


Tecidas as horas de mais um dia, eu sou um corpo que despe-se das monotonias e rotinas e queda sobre um lençol emaranhado. quieta. permaneço. um desejo, como pena, balança no ar, não sabendo para onde vai, e tampouco se importa com isso. não há mais. vai para lá e para cá e o meu corpo é um peso do fim do dia. repleto de faltas. de medos. de dúvidas...

Suspenso no ar, percebo que procura um lugar para se recostar. mas o meu corpo é o peso. o peso e o sopro de quem cansou-se das horas. não há mais. uma lágrima se forma no canto do olho e escorre sozinha e desprendida até o travesseiro. já não sei se me importo. no corpo e no peso e na solidão desse momento, muita coisa é efêmera. talvez essa lágrima quisesse definir algo, mas é apenas mais um desses pesos. o meu corpo, as horas, o silêncio e uma lágrima. não há mais. percebo que a suavidade do desejo, a pena, escolhe cair perto de mim, ao lado do travesseiro. lentamente levo a mão direita até ela e agarro-a com uma força de quem não quer deixar se esvair essa ponta de algo que pode reascender qualquer chama. agora somos nós: o meu corpo, as horas, o silêncio, a lágrima incompreendida e um desejo capturado que, refém dos meus dedos, quer rende-se, na ansiedade de transformar -se logo em ternura, em palavra, em amor.

e inundar.me.