2007/10/21

Possibilidades

Agora eu sou essa porta entreaberta, esse prefácio de dia, essa aurora que quer raiar. Devo ser também um livro com algumas páginas desentendidas, alguns rabiscos de sonhos, de devaneios, de futuros ou de decepções. Sou mais essa página e também essa caneta que escreve e desiste, desenha e sorri, balbucia e a lugar nenhum chega, parecendo des-esperar. Vês algo entre as folhas? Entre o agora e o passado há tanto o que se dizer, há tantas lacunas e questionamentos que pairam nos cumes do invisível e do improvável... Perguntas ao nada, respostas que fogem ao coração. E eu, à beira, permaneço quieta e muda, abdicando de convicções, como aquele livro agora fechado e como a caneta sobre a mesa. Posso ser quem sabe essa leve brisa, ou até mesmo (e até prefiro) uma pétala esquecida ao canto que, num secreto calar, espera pelos raios de um sol que não tarda, e permite que absorva um pouco da sua singela essência de querer ser infinitamente grande.

2007/10/15

Eu mais Tu

Carlos Gomes - Eu mais Tu

Lembro-me de quando eu começava a traçar com a ponta dos dedos linhas desconexas sobre o teu corpo, e quando tu estendias o teu horizonte paralelo ao meu. Lembro bem, ríamos e brincávamos como duas crianças, numa inocência nossa, e esquecíamos o tempo, as diferenças, a distância. Os nossos mundos eram um colorido que fazia sentido. Era como se sentássemos ao chão com folhas de papel em branco, e nelas desenhássemos aquilo que seriamos, o que ninguém poderia tirar, um tão esperado existir de amor começando a ser. Eu desenhava um casal, então tu vinhas e os rodeava com um coração. Tu desenhavas o abstrato, e eu escrevia o meu nome no teu papel. Nós riamos, e sabíamos nos completar.

Eram bonitos os nossos retalhos lado a lado, as nossas dobras de vida, os nossos pedaços de sonhos todos juntos. E hoje, não sei por quê, mas à memória veio a lembrança de que estão todos ainda colados ao peito.

2007/10/07

Últimas, Penúltimas, Antepenúltimas...

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Ultimamente eu prefiro pensar em (definitivamente) não olhar mais para trás, e apenas continuar cultivando expectativas sob o olhar de um horizonte que deixa de ser confuso, e se aproxima de mim, em dias que se re-criam.

E você, no que tem pensado?

2007/10/01

Dia 1 de Outubro e as Borboletas

Dia 1 de outubro, e eu estou aqui registrando em palavras mais momentos da minha vida. Realmente eu não pensei que fosse estar da forma que estou hoje. E não sei definir. Sei que é uma alegria incontida, um não saber o que me aguarda, mas tendo certeza de que é bom. Um futuro de promessas que a vida sempre me fez, e que vejo-as a poucos momentos de materializarem-se. Um olhar novo, um pensar renovado, um coração simples.
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E se eu for pensar no dia 1 de outubro de 2006, eu estava completamente confusa, perdida, indecisa. Não me lembro como estava o tempo naqueles dias, mas hoje foi um dia de ventos que anunciaram a chuva que cai agora, deixando a luz fraca e o meu coração feliz. Como se desde lá eu estivesse sendo preparada para essa novidade, esse cheiro de terra molhada, essa surpresa do tempo. E, junto com essa chuva, também deságuam dentro de mim perspectivas, sonhos, desejos, coisas muito bem-vindas e aguardadas.

Penso agora em borboletas, como devem estar se sentindo em meio a essas gotas? Será que desencasulam amanhã? Será que deixam para depois? Penso que querem mesmo é aspirar a nova vida juntamente com uma chuva torrencial, ou uma garoa, ou pingos de um amanhecer. Borboletas me fascinam, flores também. Que capacidade de tornar um tempo de vida efêmero em eternidade, em alegria para os românticos, para os poetas, para as crianças... Quem não se encanta com uma borboleta ou uma flor que morrerá dali a alguns dias, meses, mas que deixou um encantamento por onde passou?

Se continuar a pensar em borboletas por mais um breve instante, chegaria a conclusão de que existem espécies que fazem questão de serem lembradas por seus vôos altos, ou por suas cores belas, e só. Não julgo-as. Mas digo ainda que há outras, que preferem ser lembradas simplesmente por terem des-encasulado, e visto um mundo que fora do casulo é o mesmo, mas que, dentro de si, depois de todo aquele tempo de metamorfoses, é como nenhum outro. Eu fico com estas.

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