2005/11/27

A Casa, o Céu, e Eu


Jorge Garcia - A casa da memória

Deixo, agora, que o tempo desenhe as tardes, sem interrompê-lo mais em seu compasso impreciso. Sem questioná-lo exaustivamente sobre a realização dos meus desejos mais disformes. Deixo o tempo, enquanto vou escrevendo umas palavras sem sentido, ou meramente soltas, assim como estão todos os sentimentos aqui dentro.

E, tendo comigo aquela absurda certeza de que as ilusões agora pairam, como leve poeira, naqueles sôfregos minutos de dúvidas e mistérios, recosto a cabeça num apoio qualquer dessa casa sozinha.
E permito me re- ou in- terpretar, umas vezes, menina imatura, noutras, mulher de certezas: essas duas novidades, que agora me preenchem de diferentes perspectivas...

Finalmente. Então.

..............................s...

........................n...........b...

...................a.....................o...

...............r..............................r...

..........T......................................d...

.......................................................o...

Sob um céu recoberto de inexatidões.

2005/11/18

Olhar


Sophie Thouvenin - The street

Inventei olhos de verão, onde as coisas são preenchidas por um colorido intenso, mas que ao mesmo tempo não ofuscam. Olhos de dúvidas, mas também de inquietude pelo que está por vir nos dias em que me torno incapaz de traduzir sentimentos em palavras.

Inventei esses olhos para não ser mais apenas uma alma que anseia por amar, mas para ver as coisas diferentes, ainda que agora pareçam pequenas, sob um novo prisma, em que se tornam tal qual o meu desejo, ou bem maior do que eu poderia imaginar...

Inventei olhos de novidade, mas eles não piscam, de tão encantados com a cor da felicidade que nasce e morre, nasce e morre e míngua num coração de primaveras e outonos, ou verões e invernos, não sei. Coração sem estações definidas, mas que, a cada amanhecer, se descobre maior ainda, a ponto de mal caber no vasto espaço dos meus sonhos recém-nascidos.

2005/11/07

Os primeiros dias eram lilases


Davisu - Hojas Lilas

Eram lilases aqueles dias que eu me imaginava brotando nuns braços de paz, que me trouxeram aconchego e harmonia. E, à medida que a tempestade se apaziguava, abriam-se as janelas que agora apenas lacrimejavam gotas da chuva de ontem. Tão simplórias. E sutis.

Naqueles doces dias de céu rabiscado por finas nuvens, não existia mais tormenta, tampouco a solidão, que agora cabia entre os dedos, de tão pequena e inútil...

Durante aqueles dias eu sorri um sorriso de inocência, e ouvi, naquela voz, uma melodia singular. E, ao redor, a batida dos nossos corações, que se esqueciam de tudo o que pudesse causar impedimento de desejos. Ele me mostrava seus sonhos, e eu me encantava com a delicadeza de suas marotas novidades.

Lilases eram aqueles dias que eu pensava estar começando e me deixando amar.

2005/11/01