2017/03/29

Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente

"às vezes a gente quer um amor que saiba o nome de todas as cidades importantes do Panamá, mas que se não souber, não tem problema também, porque há amor
alguém que não coloque a mão na frente dos olhos quando o sol for forte demais
ou a entrega for comprida demais
ou os beijos forem extensos demais, capazes de curar mágoas e angústias antigas

alguém que volte pra casa e avise que está voltando, mas que se não avisar e fizer surpresa, tudo bem tudo bem
pois o sorriso estalado no meu rosto às sete da tarde será a melhor coisa da semana pra nós dois

que se preocupe em trazer brócolis da feira, mas que me leve aos mais indelicados festivais de coxinha
e que se atente, a pessoa que deterá meu amor, para minha agonia mais sutil num dia mais cabal
vai me olhar, serenizado, e me perguntar: "com qual das mãos posso esmigalhar as suas culpas?"
não precisa entender de poesia
mas que entenda as vezes em que precisarei me ausentar
mudar de quarto
erguer muros literários

eu quero um amor que me aponte no mapa todas as possibilidades de conforto. quando, entre um dia e outro, existe a vontade de fugir pra cidade vizinha.
alguém que arrume minhas malas sem que minha consciência perceba a tempo
e que me roube

me roube!
foge comigo pra algum lugar distante?
às vezes a gente só quer sair do mundo, entrar em outro, pular em outras águas, experimentar do amor entrando na pele de maneira distinta, com gosto de adrenalina lá no fundo do organismo, lá no fundo do organismo

um amor que me coloque sobre os ombros e corra comigo como numa fotografia antiga e velha, quando o mar desponta no peito uma vontade de infinitude
um amor, um alguém-amor, para ser esse mar profundo, que não me traga medo de me afogar
a última vez que me afoguei, quase morri.
mas não quero morrer, porque amor não mata ninguém.
um amor que não se importe de dividir o mesmo espaço-tempo, o mesmo livro de literatura mexicana, o mesmo fone de ouvido, a mesma vontade de ter um jardim em casa, o mesmo anseio de escrever nas paredes da sala, a mesma vontade louca e inóspita de correr pelas ruas da cidade e só parar quando cair, quando o joelho ralar e o corpo pedir arrego
um amor-alguém para ser louco comigo, em mim, tão dentro de mim que mundo nenhum poderia furtar
alguém para debater os limites da fronteira entre a pele e o peito
entre aquilo que grita e queima
e que fica em nós e não volta

alguém que não me ache louco ou insano por gostar demais dessa coisa vertiginosa de escorrer pelas linhas do universo e estar fadado a tudo que me tira daqui, arrebata e me leva noutra dimensão
às vezes encontro Deus mas não conto a ninguém
[agora vocês sabem]
algum amor-alguém que me faça ter vontade de amar novamente
e amar sem temer
amar com a força de uma Flor desbravando o asfalto
amar com a ânsia de quem precisa muito se salvar

porque o amor salva o mundo
porque o amor é a gravidade segurando o menino-mundo na corda bamba da vida explodindo
explodindo
explodindo......."

Da página 'Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente" no face.

:) 

6 comentários:

  1. Obrigado pela dica de página, :D

    Adorei esse texto. Ainda me pergunto muito sobre o que é o amor e como ele aparece na nossa vida e todas as reviravoltas que ele pode causar na nossa vida.

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    1. Por nada, Geison, vc vai gostar.
      O amor, essa incógnita! rs

      Abraços. =*

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  2. Esse é o tipo de amor que realmente vale a pena!

    Beijão.
    Blog: *** Caos ***

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    1. Com certeza Helena, puro e sem frescuras. obrigada pela visita.

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  3. Belíssima postagens. Foi muito bom teres nos presenteado com essa publicação. Realmente, é um texto para não se ler depressa. E fala do amor, que também não pode ser vivido depressa, que não deve ser cobrado, que não aguenta ser questionado.
    Ah, o amor... Haveria um milhão de coisas a se dizer sobre ele, mas se ao menos pudermos vivenciar dez delas, o coração já transborda de felicidade.
    Eu elegeria, no amor:
    Reciprocidade: não importa tanto a forma de dizê-lo, de expressá-lo, mas a reciprocidade.
    Harmonia: não importa tanto com quem a mais nos damos, mas se nos damos, se a música toca e dançamos juntos.
    Fidelidade: não importa se meu amor é a mais linda do mundo, esse julgamento tão externo e estereotipado... - mas se ela é a que eu amo, é a que me faz sonhar.
    Seguindo-te. Um abraço.
    Luc

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    1. Sim, o amor tem suas nuances, mas não deixa de ser belo e puro, se assim o deixarmos ser.
      obrigada pela visita. :)
      beijos

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