2005/12/06

Tempo de colchas


Geoffroy Demarquet

Como nas horas que passam desapercebidas, ou como nos dias em que as improbabilidades se demoram, preciso de um tempo para lidar comigo. Digo preciso, porque é nesse espaço em que tento ordenar os pensamentos, e é nele, também, que estão guardados todos os relicários que fui montando, enquanto à espera dessa outra de mim estava.

É nesse tempo que costuro uns retalhos de sonhos com outros de dúvidas, e acabo sempre por findar numa colcha em que estão registradas todas essas inquietudes de ainda não saber-se menos pequena, juntamente com os medos e esperanças de adivinhar-se grande demais para caber em si.

Costuro e refaço tudo de mais inconstante enquanto, ao meu lado, sinto a presença de um coração secretamente calado e paciente que, amedrontado e tímido, se esconde, todas as vezes que tento lhe mostrar o resultado daqueles tantos silêncios atemporais.

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